quinta-feira, 24 de maio de 2012

Senhora dos Aflitos, rogai por nós!

O fato de ter nascido sob a religiosidade católica direciona meu olhar à expressões desta fé. Ao caminhar pelas ruas mais orientais de São Paulo no bairro da Liberdade, deparei-me com um beco e ao final dele uma capela que por seu estado de conservação pareceu-me ter testemunhado boa barte da história local. Dedicada à Nossa Senhora dos Aflitos, a igreja foi construída em 1779 e fazia parte do primeiro cemitério público da cidade onde eram sepultados escravos, indigentes e condenados à morte. Nada mais restou do cemitério que foi desativado logo após a inauguração do Cemitério da Consolação, a pequena capela em sua singeleza resiste ao tempo e a indiferença dos que transitam pela região.

Festa da Bandeira Haitiana

N AP VIN ZANMI!*
*NÓS SEREMOS AMIGOS (EM CRIOULO HAITIANO)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pense no Haiti ...

Tal qual a mitológica Fênix, poderia uma nação renascer das ruínas sob as quais parece jazer? Cambaleante, não mais nos alegres passos de sua dança, mas no trilhar tortuoso sobre os escombros que ocultam edifícios, pessoas, memórias, um povo refaz sua história, não necessariamente onde tudo começou, mas onde conseguiu chegar. Haiti. Após um devastador terremoto ocorrido em janeiro de 2010, haitianos marcados pelo luto, por doenças e corrupções políticas foram impelidos a reescrever sua história e o Brasil tornou-se um novo e importante capítulo. Estima-se que há cerca de 5000 haitianos no Brasil dos quais aproximadamente 1600 encontram-se em São Paulo. O país mais pobre no coração da cidade mais rica da América Latina reconstrói sua história. Na Paulicéia a comunidade haitiana se reúne para celebrar o jour du drapeau, o dia da bandeira, momento em que rememoram a data quando os escravos que lutavam pela libertação da ilha do jugo francês rasgaram a faixa branca da bandeira francesa e criaram uma nova bandeira com as tiras azul e vermelha buscando expressar a separação vislumbrando a Declaração de Independência que seria proclamada meses depois em janeiro de 1804. E não havia lugar melhor para essa comemoração, a igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério! A singela bandeira parecia romper as barreiras geográficas, lingüísticas e culturais, acolhida por numerosos olhares saudosos, ora tristes ora vitoriosos que compartilhavam suas vidas com a cosmopolita assembleia presente na igreja. Brasileiros, bolivianos e até uma alemã e um libanês enriqueciam o fantástico mosaico étnico presente no templo. A missa celebrada em francês, creole e português unia mais ainda as pessoas que ali estavam e os faziam solidários àqueles que já não mais estão por este mundo, mundo vasto mundo como dizia o poeta. A paz não é somente a ausência da guerra, mas o estômago saciado, a carteira de trabalho assinada, o lugar reservado nos bancos escolares, os cuidados de um profissional de saúde, o sorriso ao passear por um parque, enfim é a vivência da cidadania. Acolhendo migrantes, imigrantes e refugiados a Missão Scalabriniana Nossa Senhora da Paz, tornou-se um centro de referência à acolhida da pessoa em situação de mobilidade. No Complexo Missionário composto pelo Centro de Estudos Migratórios, Centro Pastoral do Migrante, Casa do Migrante e pela Igreja Nossa Senhora da Paz milhares de pessoas de mais de 70 nacionalidades já foram atendidas. A presença marcante da comunidade italiana e as cores das comunidades sul-americanas se abrem a nova comunidade que começa a compartilhar sua fé, cores e sabores e, como cantam outros poetas “pense no Haiti, reze pelo Haiti, o Haiti é aqui ...”
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