segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Al otro lado del río

“Nunca vi nem comi eu só ouço falar”, embora não fosse o momento mais adequado os versos de Zeca Pagodinho pagodeavam em minha mente durante a missa em honra à Nuestra Señora de Caacupé, a padroeira do Paraguai, celebrada na igreja mais latina da cosmopolita São Paulo, a Igreja Nossa Senhora da Paz. A canção brasileira ecoava em minha mente ao me recordar da imagem negativa frequentemente veiculada pela mídia sobre o país guarani. A palavra Paraguai tornou-se vergonhosamente sinônimo de fraude, negócios escusos ou qualidade duvidosa, acepções cristalizadas no imaginário do povo brasileiro, por estar em um ambiente religioso me senti obrigado a fazer ainda que em silêncio o meu repúdio e retratação a perversidade que o meu país faz com a nação vizinha, opressão que remonta ao belicoso conflito aqui chamado Guerra do Paraguai, onde nosso exército dizimou milhares de paraguaios. Ao som de guarânias e emocionantes discursos em Guarany, a animada, religiosa e numerosa comunidade paraguaia celebrou não somente a sua fé, mas suas raízes e assim a perpetuação de sua identidade! Ao sair já não me lembrava mais do famigerado pagode mas cantarolava junto à Perla, a cantora paraguaia mais brasileira que conheço: “Oh, Virgencita, de los milagros Tú que eres buena, oye mi ruego: vengo a pedirte que tus perdones Lleguen a mí. Caudal de hechizos y de ternuras, hay en tus ojos, que son azules como ese cielo que cubre el suelo donde nací”.
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