quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Basta!

O sociolinguista Dino Preti escreve: “a língua funciona como um elemento de interação entre o indivíduo e a sociedade em que ele atua (...) através dela, o contato com o mundo que nos cerca é permanentemente atualizado”. Acrescentaria à frase “... difundido e perpetuado”. Minha indignação reverbera após a leitura de uma manchete noticiosa veiculada no jornal Folha de S.Paulo em 12 de novembro de 2012, na versão on line do diário em questão lia-se “Paraguaia, maconha vendida em SP vem com fungos e formigas”. O adjetivo paraguaia informa como pressuposto a origem da maconha vendida em São Paulo, porém, há um componente contextual na frase, um subentendido, ao qual devemos nos atentar e combater os danos por ele provocado. A palavra paraguaia no cotidiano brasileiro refere-se a algo que não é verdadeiro ou possui qualidade duvidosa, essa acepção se deve à comercialização sem o ônus tributário de artigos Made in China que atravessam a fronteira e aportam no mercado brasileiro. A propagação desta ideia estigmatiza a população paraguaia, reduz sua Identidade a algo desprovido de qualquer valor. É preciso combater a difusão deste preconceito que manifesta-se de outras formas como podemos ver na música Por trás da fantasia interpretada por Daniela Mercury “essa loira é loira falsa, é tingida paraguaia ...” ou então na canção sertaneja do cantor Vítor Hugo , Amor do Paraguai, “então decidi não quero esse amor falsificado (...) pegue a mala e leve embora esse seu amor do Paraguai”. Em um momento em que a América Latina é revalorizada, países tornam-se importantes parceiros econômicos, a produção cultural alcança projeções interacionais, enfim, a latinidade adquire nova perspectiva e com isso não há espaço à manutenção de visões superficiais e segregativas. E para terminar canto com Zé Rodrix “soy latino-americano e nunca me engano ...”

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lembrando dos que aqui estão ... (Milagros - Parte II)

Não tenho dúvidas de que algo especial e indescritível eu vivi (e vivo) ao lado da comunidade peruana aqui em São Paulo, bem como quando tive o prazer de conhecer as terras milenares dos Incas (e tantos outros povos, por essa razão esse poema teve duas estrofes acrescidas e penso que a cada experiência vivida sob a graça do Señor de los Milagros esse poema será reescrito ...

Milagros

Passos marcados.
Hábitos morados.
Olhos marejados,
seguem o Cristo crucificado!

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção, lembrança.

Todos param.
Uns oram.
Outros choram.
E ao cristo imploram

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção e lembrança.

Incenso, velas e flores
são oferecidas
ao Senhor das dores!
E segue a andança.

Homens mulheres, crianças.
Fé, devoção lembrança.

Da Selva vem,
da Serra também e,
com os da Costa entoam o amém

Homens mulheres, crianças.
Fé, devoção lembrança.

Mesmo distante do lar
enfeitam todos o altar
com Cristo a guiar
saem todos a rezar

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção, lembrança.

Correspondência


Taboão da Serra, 01 de novembro de 2012.

Ontem estava lendo o jornal quando me deparei com uma matéria sobre o Dia D, o dia de Drummond, aquele poeta da pedra no meio do caminho, lembra? O texto falava sobre um poema que eu não conhecia, A Luís Maurício, Infante. Drummond o escreveu quando seu segundo neto nasceu. Automaticamente lembrei-me de um bilhete-poema dedicado a outro segundo neto, bem, de fato, não era o segundo neto, mas era tido como tal, em virtude de a família desconhecer o paradeiro dos anteriores. Acostumada a escrever apenas cartões de natal para trocar com suas amigas ou anotar telefones nos pedaços de papel que geralmente deixava no móvel ao lado de sua cama, seu poema-bilhete tal qual o escrito de Drummond, era a manifestação do carinho, conselhos e a partilha de ensinamentos de vida a um infante que completava mais uma primavera, a quinta! Esse presente-poema ficou guardado por muitos anos, até que o rapazinho crescesse e fosse capaz de guardá-lo por si só. Hoje o menino é um homem barbado e já passadas vinte e oito primaveras desde aquele pedacinho de papel, ousa rabiscar algumas linhas aspirando o título de poesia e, tenta penetrar surdamente no reino das palavras onde segundo Drummond estão os poemas que esperam ser escritos e de onde certamente saiu aquele bilhetinho em 17 de maio de 1984.

Saudades.

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