quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Dançando, dançando ...

Sou apaixonado pelo ato de caminhar, se posso ir a algum lugar caminhando não hesito em fazê-lo! Gosto de observar pessoas, construções, a vida que passa e, principalmente as criativas (e muitas vezes assassinas linguísticas) faixas, cartazes, placas.

Outro dia caminhado por um bairro vizinho deparei-me com uma faixa do governo municipal, seria apenas mais um aviso de utilidade pública não fosse o preconceito velado na informação escrita com letras garrafais: “Pancadão, não. Denuncie”, a frase está ilustrada com uma jovem tapando os ouvidos com as mãos.

Embora o ritmo seja vibrante e as vezes fazem nossos pés acompanharem, ainda que discretamente sob a mesa, o compasso, ou então repentinamente nos faz cantarolar debaixo do chuveiro o hit do momento, confesso não ter apreço pelas letras cantadas em coro por jovens que rebolam até o chão ou (quase) acasalam-se na batida do tal pancadão, realmente “vodka ou água de côco pra mim tanto faz” não discuto as preferências musicais, mas a institucionalização do preconceito contra elas.

Imagine assistir a um filme com as janelas da sala vibrando ao ritmo do pancadão. A pornografia musical em altos níveis decibéis, embora altamente incômoda é a expressão sociocultural de um dado grupo o que nos permite colocar em pauta outros temas: relações sociais, liberdade de expressão, privacidade, mas não é sobre essa discussão que escrevo, mas à informação contida na faixa, como dito anteriormente a institucionalização do preconceito.

No bairro onde moro, há muitos jovens que apreciam fervorosamente o funk, porém, o grande vilão da vizinhaça, o que nos tira o sono e muitas vezes a paciência é o famigerado samba de roda, que apesar do nome é na verdade um parente próximo, o pagode. Mesmo pouco distantes ouvimos forçadamente por horas a fio o teco-teleco-teco do pagode, de fato as janelas não vibram, mas pagodeando o som entra em casa por qualquer fresta que deixamos pelo caminho forçando nos a aumentar os volumes desde os aparelhos as nossas vozes, dormir?! Quem sabe após um concentrado chazinho de camomila!

Em junho último participei na cidade de uma manifestação contra o aumento abusivo das passagens de ônibus (uma das mais caras do país), reivindicamos mais investimentos em educação, saúde e segurança. No rastro da democracia exercida em meio aos manifestos que tomaram o país, critico uma vez mais o governo municipal por sua ação discriminatória! Sou cidadão, sou eleitor, sou leitor e entendo que poluição seja ambiental, visual ou sonora, como a questão apresentada deve ser evitada, combatida, superada, assim a prática municipal deve ser a contenção de quaisquer atos que com abusivos níveis de decibéis atentam contra o munícipe, e sabemos que anterior ao exercício da força da lei os investimentos em educação, saúde, moradia, lazer e segurança garantem sociabilidade, cidadania e observação de direitos e deveres.

Bom, já tomei nota do telefone e efetuarei minha denúncia, não contra o pancadão, mas contra o pagodão.
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