terça-feira, 25 de junho de 2013

Invencionices Protestantes

Muito tem se falado sobre os cartazes, faixas e palavras de ordem que circulam em meio aos protestos que tomaram as ruas das cidades em todo o país, a espontaneidade e o caráter viral dos manifestos estimularam a criatividade popular que pouco atenta-se às normas cultas da língua, padrões por muitas vezes castradores e excludentes que sempre nos sugere um debate a respeito do dinamismo linguístico.

No movimento Diretas Já! eu tinha apenas quatro anos de idade, mas me recordo de ver pela TV uma multidão de gente gritando alguma coisa, no Fora Collor! estava com treze e meus pais acharam que eu ainda era muito novo para pintar a cara e sair às ruas pedindo o impeachment do então presidente, agora já barbado e com mais de 30 anos, me juntei à multidão para lutar por um país melhor o que de fato é possível apesar de todas as suas mazelas.

Na cidade onde moro, Taboão da Serra, uma das manifestações reuniu cerca de cinco mil pessoas que interditaram a rodovia Régis Bittencourt, importante ligação entre São Paulo e o Sul do país. Em meio ao anda-para-pula-senta-grita pude recolher algumas frases que revelam o perfil dos manifestantes bem como de suas reclamações.

Uma pauta reincidente era a tarifa abusiva do transporte coletivo da cidade, uma das mais caras no país, para circular dentro do município com pouco mais de 20km² o passageiro desembolsa R$ 3,00, da crítica bem-humorada “Meu cartaz tá amassado porque o busão tava lotado”, passando pela apologia às drogas “Olha que vergonha o busão tá mais caro que a maconha” e até mesmo pelo rebate ecoado por jovens contrários ao uso da erva “Que patifaria o busão tá mais caro que a coxinha”, o transporte público era a força motriz do movimento. Quando o cansaço parecia cercar a passeata, a euforia adolescente buscou animar os manifestantes gritando:“Quem não pula quer tarifa” criando um momento micareta que foi embalado por “Quem apoia pisca a luz” pedido de apoio aos moradores dos prédios marginais à rodovia.

Reclamações de escala nacional também chegaram às terras taboanenses, como a PEC 37 – Projeto de Emenda Constituição de autoria do Deputado Lourival Mendes PTdoB/MA que retira o poder de investigação do Ministério Público – a frase escrita em um cartaz era: “Cala boca piriguete diga não a PEC 37”, não sei a “piriguete”( risos, não sabia a quem procurar, mesmo porque não sei qual a forma correta de escrever periguete ou piriguete, a Academia ainda não registrou o termo), mas o rapaz que sustentava o cartazete não soube me explicar o que era PEC 37, fato contraditório à palavra de ordem que fora repetida a exaustão “Ei, você, manifesto não é rolê” tentativa de conferir ao evento um ar digamos sério. O Governo e seus investimentos bilionários nos campeonatos mundiais de futebol não saíram ilesos em meio ao protesto uníssono “Copa ô c.....o, educação, saúde e trabalho” e até mesmo a soberana FIFA foi lembrada “FIFA paga minha tarifa”. Ações truculentas da Polícia em outras partes do país foram lembradas com irreverência “Spray de pimenta no olho de baiano é refresco” e com orgulho “Que coincidência não teve polícia e nem violência”, poucos eram os policiais no local. Sabendo da possibilidade de atos vândalos, entre muitos havia um cartaz emblemático “Se algo der errado não me levem para o Antena”, uma crítica ao precário sistema de saúde da cidade e alusivo ao Posto de Saúde mais midiático da região e convém explicar que sua exposição nos veículos de notícia não são em virtude de excelência em atendimento.

Depois de tanto anda-para-pula-senta-grita como dizem bateu a “larica” aí o melhor cartaz para ilustrar o sentimento dos manifestantes era “Mãe prepara a comida porque mudar o Brasil da fome”.

Diferente da Praça Tahrir, no Egito, onde o povo tomou um poema por hino e o cantavam a plenos pulmões: “Oh, Egito, está perto”, em Taboão da Serra não se sabia ao certo o quê, muito menos se estava perto, mas a população enviou seu recado, um pouco desconexo, ao governo que mesmo após ser achincalhado permanece em silêncio, fato que tem provocado a população a qual já conclamou a todos para um novo protesto. Parece-me que um grupo pequeno, mas bastante coeso sabe aonde quer chegar.

Esperamos a concretização do lema de campanha do atual prefeito “Dias melhores virão”, assim acreditamos.

Foto gentilmente cedida por Adilson Oliveira - Atospress

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protesto turco, poesia brasileira

Os últimos dias em todo o Brasil têm sido bastante tumultuados, milhares de pessoas saíram às ruas para protestarem embora muitos não soubessem o que reivindicavam, mas solidários (ou embalados pela novidade) foram às ruas. Outros manifestantes acreditavam ser a violência o caminho certo à conquista de algo incerto. E, ainda uma outra parte desta multidão conclamava a todos a juntos gritarem: Basta! Era a verbalização da indignação do povo junto ao governo, não somente pelo valor abusivo das tarifas de transportes coletivos, mas pela realidade deficitária do país cinicamente apresentada ao mundo como um país que tem obtido êxito na redução da desigualdade social.

A população escreveu mais um capítulo da história brasileira e pela primeira vez deparou-se com a necessidade de uma terceira via, pois o governo e a oposição figuravam na mesma posição, de algozes. Em uma rápida passagem pelos noticiários soube que alguns governantes foram sitiados seja na sede do governo local ou em agência bancária, como diziam muitos cartazes “o gigante acordou” ainda que sonolento e sem saber o rumo certo, seus rastros têm sido o caminho à população insatisfeita.

O Brasil tem estampado a primeira página de muitos jornais em todo o mundo, não somente pela Copa das Confederações, evento teste para o Mundial de 2014 e marcado pelas uníssonas vaias à presidenta Dilma em seu discurso de abertura, mas por seu povo sair dar inércia e reivindicar não somente o que lhe é direito, mas possível: saúde, educação, moradia, transporte, segurança, menos impostos, mais transparência e eficiência políticas e tudo com o “padrão FIFA” de qualidade como sugerem faixas espalhadas por todo Brasil em meio às manifestações, haja vista, os vultosos investimentos na realização dos eventos esportivos sediados pelo país.

As manifestações brasileiras têm pautado as conversas desde os botequins até o congresso nacional, mas ao decidir escrever sobre a onda de protestos que invade nossos dias, não o fiz pensando no tumulto que me cerca, mas no silêncio que me excita.

O governo turco anunciou a destruição de um parque em Istambul para a construção de um centro comercial, ambientalistas iniciaram pacificamente manifestações contrárias à ação do Estado, porém, foram reprimidos violentamente pela polícia local e expulsos sob o efeito de gás lacrimogêneo. A censura imposta pelo governo incitou à população que saiu às ruas não só como oponentes à destruição do parque, mas especialmente contra o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, e rapidamente e em grande escala se espalhou por diversas cidades turcas.

A suspensão violenta aos processos inspirou o coreógrafo turco Erden Günduz a expressar sua indignação e revolta de uma forma diferente, silenciosa. A frente da figura de Mustafá Kemal Atatürk, considerado fundador da Turquia moderna, o coreógrafo permaneceu em pé por cerca de oito horas, o jovem conquistou outros manifestantes e cerca de 300 pessoas aderiram à resistência silenciosa como ficou conhecida. Ao contemplar as imagens deste inusitado e poético protesto, lembrei-me dos versos de duas canções brasileiras, de dois reis musicais das terras de protestos em altos decibéis:

“Além do horizonte, existe um lugar
bonito e traquilo, pra gente se amar ...”

O rei do iê-iê-iê, Roberto Carlos, convida-nos a olhar além, sobrepor o olhar a muralha de policiais e veículos que expressam a repressão à democracia, estimula, inspira, orienta a seguir em frente.

Como o retrato de Atatürk fica no alto de uma parede do Centro Cultural localizado na Praça Taksim, ao ver as fotos, pareceu-me que as pessoas olhavam para o céu.

“Olha pro céu, meu amor
vê como ele está lindo ...”

O rei do baião, Luiz Gonzaga nos chama a contemplar o céu, e esta é uma mensagem que pode falar muito ao coração dos turcos, pois há uma popular lenda que diz que a bandeira turca representa a lua e a estrela refletidas em uma poça de sangue durante a guerra da independência do país.

Unido aos jovens turcos, grito: basta de pão e circo, quero pão, poesia e paz!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Interrogações Paulistanas

Uma das características mais acentuadas da cidade de São Paulo é sem dúvida sua diversidade, não importando sob qual perspectiva a vemos.

Na megalópole paulistana encontramos tudo para todos. Destaco as releituras ou reinvenções dos eventos da cidade, tudo em atendimento às demandas mais plurais existentes na urbe, Virada Cultural, Virada Sustentável, Virada Esportiva, Virada Pornô (sim, basta folhearmos os jornais de grande circulação da última semana e nos depararemos com notícias sobre o evento), Marcha para Jesus, Marcha da Liberdade, Marcha das Vadias, Parada Gay, Passeata de Professores e agora o que seria mais um manifesto, porém, fora rebaixado à categoria Atos de Vandalismo, Passeata contra o aumento das tarifas de transportes coletivos.

Para onde caminha a cidade brasileira mais importante no âmbito global? Ao buscar uma resposta, me recordo do lema da cidade Non ducor, duco, frase latina que significa não sou conduzido, conduzo! Temo para onde irei com essa cidade e temor tem sido um dos sentimentos mais compartilhados entre a população, assaltos, seqüestros, arrastões, depredações ocorrem todos os dias sob os olhos do governo, que cinicamente e violentamente tenta limpar sua imagem arranhada pelas manifestações diversas que se propagam por toda cidade. Buscando respostas, parece-me que à mente vão se abrindo bauzinhos de recordações e agora se abre um com versos de Drummond (A Flor e a Náusea):


“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.”


Busco respostas assistindo ao noticiário, navegando no vasto oceano tecnológico, orando ao Deus que acredito, olhando as pessoas ou simplesmente lendo poesia, quem sabe fazendo poesia:


A São Paulo em que nasci já não existe mais, sua memória concreta repousa sob o fatigado verde já quase vencido pela modernidade cinérea.
A São Paulo em que vivo não reconheço, tudo é (in)tenso, adormeço.
Recomeço.
Meço tudo o que ficou para trás.
Alcançarei?
Só se embarcar no próximo trem.

domingo, 9 de junho de 2013

Reflexo

Não sei porque esse post ficou como rascunho há tanto tempo, certamente desatenção. Mas a reflexão que me trouxe é válida, a cidade a cidade é um grande espelho, porém, São Paulo é um espelho estilhaçado, e os caquinhos refletem sua diversidade.

Na vibe da Cidade dos Espelhos (um dos primeros posts rsrsrs) e como sempre fuçando os arquivos achei duas fotos, dêem uma olhadinha
Reflexos de prédios na vidraça de um dos fantásticos edifícios do Memorial da América Latina;

Essa é la de Buenos Aires, uma rua ali pertinho da Casa Rosada, mas não me lembro ao certo
----------------------------------------------- */