segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Al otro lado del río

“Nunca vi nem comi eu só ouço falar”, embora não fosse o momento mais adequado os versos de Zeca Pagodinho pagodeavam em minha mente durante a missa em honra à Nuestra Señora de Caacupé, a padroeira do Paraguai, celebrada na igreja mais latina da cosmopolita São Paulo, a Igreja Nossa Senhora da Paz. A canção brasileira ecoava em minha mente ao me recordar da imagem negativa frequentemente veiculada pela mídia sobre o país guarani. A palavra Paraguai tornou-se vergonhosamente sinônimo de fraude, negócios escusos ou qualidade duvidosa, acepções cristalizadas no imaginário do povo brasileiro, por estar em um ambiente religioso me senti obrigado a fazer ainda que em silêncio o meu repúdio e retratação a perversidade que o meu país faz com a nação vizinha, opressão que remonta ao belicoso conflito aqui chamado Guerra do Paraguai, onde nosso exército dizimou milhares de paraguaios. Ao som de guarânias e emocionantes discursos em Guarany, a animada, religiosa e numerosa comunidade paraguaia celebrou não somente a sua fé, mas suas raízes e assim a perpetuação de sua identidade! Ao sair já não me lembrava mais do famigerado pagode mas cantarolava junto à Perla, a cantora paraguaia mais brasileira que conheço: “Oh, Virgencita, de los milagros Tú que eres buena, oye mi ruego: vengo a pedirte que tus perdones Lleguen a mí. Caudal de hechizos y de ternuras, hay en tus ojos, que son azules como ese cielo que cubre el suelo donde nací”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Basta!

O sociolinguista Dino Preti escreve: “a língua funciona como um elemento de interação entre o indivíduo e a sociedade em que ele atua (...) através dela, o contato com o mundo que nos cerca é permanentemente atualizado”. Acrescentaria à frase “... difundido e perpetuado”. Minha indignação reverbera após a leitura de uma manchete noticiosa veiculada no jornal Folha de S.Paulo em 12 de novembro de 2012, na versão on line do diário em questão lia-se “Paraguaia, maconha vendida em SP vem com fungos e formigas”. O adjetivo paraguaia informa como pressuposto a origem da maconha vendida em São Paulo, porém, há um componente contextual na frase, um subentendido, ao qual devemos nos atentar e combater os danos por ele provocado. A palavra paraguaia no cotidiano brasileiro refere-se a algo que não é verdadeiro ou possui qualidade duvidosa, essa acepção se deve à comercialização sem o ônus tributário de artigos Made in China que atravessam a fronteira e aportam no mercado brasileiro. A propagação desta ideia estigmatiza a população paraguaia, reduz sua Identidade a algo desprovido de qualquer valor. É preciso combater a difusão deste preconceito que manifesta-se de outras formas como podemos ver na música Por trás da fantasia interpretada por Daniela Mercury “essa loira é loira falsa, é tingida paraguaia ...” ou então na canção sertaneja do cantor Vítor Hugo , Amor do Paraguai, “então decidi não quero esse amor falsificado (...) pegue a mala e leve embora esse seu amor do Paraguai”. Em um momento em que a América Latina é revalorizada, países tornam-se importantes parceiros econômicos, a produção cultural alcança projeções interacionais, enfim, a latinidade adquire nova perspectiva e com isso não há espaço à manutenção de visões superficiais e segregativas. E para terminar canto com Zé Rodrix “soy latino-americano e nunca me engano ...”

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lembrando dos que aqui estão ... (Milagros - Parte II)

Não tenho dúvidas de que algo especial e indescritível eu vivi (e vivo) ao lado da comunidade peruana aqui em São Paulo, bem como quando tive o prazer de conhecer as terras milenares dos Incas (e tantos outros povos, por essa razão esse poema teve duas estrofes acrescidas e penso que a cada experiência vivida sob a graça do Señor de los Milagros esse poema será reescrito ...

Milagros

Passos marcados.
Hábitos morados.
Olhos marejados,
seguem o Cristo crucificado!

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção, lembrança.

Todos param.
Uns oram.
Outros choram.
E ao cristo imploram

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção e lembrança.

Incenso, velas e flores
são oferecidas
ao Senhor das dores!
E segue a andança.

Homens mulheres, crianças.
Fé, devoção lembrança.

Da Selva vem,
da Serra também e,
com os da Costa entoam o amém

Homens mulheres, crianças.
Fé, devoção lembrança.

Mesmo distante do lar
enfeitam todos o altar
com Cristo a guiar
saem todos a rezar

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção, lembrança.

Correspondência


Taboão da Serra, 01 de novembro de 2012.

Ontem estava lendo o jornal quando me deparei com uma matéria sobre o Dia D, o dia de Drummond, aquele poeta da pedra no meio do caminho, lembra? O texto falava sobre um poema que eu não conhecia, A Luís Maurício, Infante. Drummond o escreveu quando seu segundo neto nasceu. Automaticamente lembrei-me de um bilhete-poema dedicado a outro segundo neto, bem, de fato, não era o segundo neto, mas era tido como tal, em virtude de a família desconhecer o paradeiro dos anteriores. Acostumada a escrever apenas cartões de natal para trocar com suas amigas ou anotar telefones nos pedaços de papel que geralmente deixava no móvel ao lado de sua cama, seu poema-bilhete tal qual o escrito de Drummond, era a manifestação do carinho, conselhos e a partilha de ensinamentos de vida a um infante que completava mais uma primavera, a quinta! Esse presente-poema ficou guardado por muitos anos, até que o rapazinho crescesse e fosse capaz de guardá-lo por si só. Hoje o menino é um homem barbado e já passadas vinte e oito primaveras desde aquele pedacinho de papel, ousa rabiscar algumas linhas aspirando o título de poesia e, tenta penetrar surdamente no reino das palavras onde segundo Drummond estão os poemas que esperam ser escritos e de onde certamente saiu aquele bilhetinho em 17 de maio de 1984.

Saudades.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Passos marcados.
Hábitos morados.
Olhos marejados,
seguem o Cristo crucificado!

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção, lembrança.

Todos param.
Uns oram.
Outros choram.
E ao cristo imploram

Homens, mulheres, crianças.
Fé, devoção e lembrança.

Incenso, velas e flores
são oferecidas
ao Senhor das dores!
E segue a andança.

Homens mulheres, crianças.
Fé, devoção lembrança.

Da Selva vem,
da Serra também e,
com os da Costa
entoam o amém

Homens mulheres, crianças.
Fé, devoção lembrança.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Qosq'o

Rendi minhas homenagens a Lima e a Arequipa, mas não me esqueci de Qosq'o e aqui está!
Há dias não via o céu azul tal qual sua representação na bandeira de minha terra. Subindo a serpenteante carretera se descortinou a minha frente uma imensidão azul manchada de prata. Eram tantas as estrelas que pareciam um borrão na abóboda celeste, por instantes pensei no que minhas retinas tão fatigadas contemplavam e pensando no poeta lembrei das pedras que havia no meio do caminho, pedras que protegiam, pedras que oravam, pedras que festejavam, festas que abrigavam, pedras que falavam e que falaram, sussurraram ao meus ouvidos: você está em um lugar especial, aqui é o umbigo do mundo!

sábado, 22 de setembro de 2012

Doce Doce

Algodão doce, adocica alegremente o céu da boca. Nuvem de algodão. Doce? Não sei, mas alegra o céu e me faz abrir a boca!

Aqui ficai

Aqui ficai e contemplai a branca cidade emoldurada por seus vulcões em cujos topos a neve resiste, insiste e repousa.
Aqui ficai e saboreai a fartura da natureza e a inteligência na mesa arequipeña.
Aqui ficai e desfrutai da oração que brota do silêncio colorido, sob o sol ardido, no centro da cidade um lugar querido.

Amarelo Lima

Aproveitei uma viagem ao Peru para me recuperar de uma Síndrome de Falta de Criatividade que me acometia!
Amarilla. LIMA, a cidade dos reis! EIS, ruínas, pessoas, histórias. MEMÓRIAS. Onde o céu parece não estar. O deserto beija o mar. E é grande a vontade de ficar!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Paulistanamente Boliviano (Festas&Fotos)

Fé, cultura e cidadania pulsaram forte nos corações dos milhares de bolivianos (e por que não dizermos também dos brasileiros) que transformaram o Memorial da América Latina em mais um departamento do Estado Plurinacional da Bolívia no primeiro final de semana de agosto. O civismo da festa da independência (e já se vão 187 anos de história “republicana” (re)construída dia após dia ...) e a emocionante religiosidade dão o tom ao evento. Olhares atentos, saudosos, emocionados e alegres se entrecruzavam em meios às roupas coloridas, a bandeiras agitadas, as fantasias que remexem nossa imaginação, tudo sob o olhar maternal da Virgen de Copacabana, padroeira de toda Bolívia cuja imagem era ladeada por outra expressão da fé boliviana, a Virgen de Urkupiña, protetora do Departamento de Cochabamba. Diversas agremiações de música e dança desfilaram e animaram o público presente, tinkus, caporales, sayas, diabladas, chacareras e morenadas ditavam o ritmo vibrante da festa, destaque para Fraternidad Morenada Señorial Illimani que por instantes deixou a cadência marcada da morenada para embalar o público ao som dos hits “Ai se eu te pego” e “Tche tche rere”. E não há como esquecer das suculentas salteñas e das apimentadas pukacapas, saborosas empanadas muito apreciada por todos bolivianos e brasileiros que como eu sentem prazer em vivenciar a bolivianidade na cosmopolita terra dos mil povos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

São Paulo e a Arte de Flanar

Fui presenteado com o livro Os cem melhores contos brasileiros do século, uma coletânea dos melhores textos do gênero produzidos no Brasil ao longo do século XX e organizados por Ítalo Moriconi. A seleta de textos é puro prazer aos amantes da arte da palavra. Ao ler os contos de João do Rio (O bebê de tarlatana rosa e Dentro da noite) me recordei de uma passagem de Dom Casmurro, de Machado de Assis, autor do conto inicial do livro-presente, lembrei-me de quando Bentinho define o olhar de Capitu: Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Fui tomado por um encantamento e sob sua ação recorri ao oráculo dos novos tempos em busca de informações sobre o escritor e sua obra. Encontrei em versão digitalizada o livro A alma encantadora das ruas, em que o autor se apresenta como um flâneur e nos convida à arte de flanar que em suas próprias palavras consiste em: ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí (...) e mais adiante me surpreende ao falar sobre as ruas dotadas de alma: Oh! Sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, spleenéticas, snobs, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem pinga de sangue... Sofrendo da mesma patologia cultural que acomete o escritor Marcelo Duarte, somos paulistanos-obsessivos-compulsivos, baixei a tela do notebook e me imaginei vagueando pela megalópole paulistana. Imagine abrir sobre a mesa um mapa em que a Turquia está a lado da Bélgica, a Bolívia fica pertinho da Europa e a Venezuela faz fronteira com os Estados unidos! E a gastronomia?! Temos pizza de carne seca, caipirinha de saquê, bombinhas santas (docinhos feitos com água benta) e surpreenda-se temos ainda um prédio no formato de uma deliciosa melancia, sem nos esquecermos da gigante carambola que adorna outro edifício. E, em se tratando de arquitetura não podemos deixar de fora da lista o prédio-foguete construído no coração econômico da cidade e tampouco a grande Torá, livro sagrado dos judeus, aberta a todos os credos em uma avenida de grande movimento. Afinal uma cidade que nunca dorme tem muito a oferecer aos flâneur (Pardon, je ne parle pas français, alguém pode me ajudar com o plural?!). A essa altura você que gastou alguns preciosos minutos lendo este texto, deve estar se questionando quanto às faculdades mentais de quem o escreveu, ou ao menos curioso para conhecer essa cosmopolita cidade, se este for o sentimento que lhe toma agora aperte o off e saia flanando por aí. E por falar em passear a toa encerro com um poema do querido Paulo Leminski: pariso, novaiorquizo, moscoviteio, sem sair do bar, só não levanto e vou embora porque há lugares que eu nem chego a madagascar. Não sei, não, mas acho que ele estava falando de São Paulo!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Bandeira Paulista

Em nove de julho o povo paulista reverencia sua história rememorando a Revolução Constitucionalista de 1932, movimento armado contra o governo ditatorial de Getúlio Vargas. O estado buscava a retomada de sua autonomia administrativa bem como a promulgação de uma nova Constituição. Buscando alternativas não militares à manutenção do movimento, criou-se a célebre campanha OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO, em que a população doava alianças e objetos de ouro criando assim um fundo monetário. Com o fim da revolução, a sobra do outro que foi arrecadado foi doado à Santa Casa de Misericórdia, que o investiu na construção de um edifício em terreno de sua propriedade no Largo da Misericórdia, a fachada do prédio representa a bandeira paulista. Realmente o concreto é uma das marcas dessa cidade, depois do Livro (Centro da Cultura Judaica) e da Melancia (Hotel Unique) agora temos uma bandeira todinha em concreto!
"Bandeira da minha terra, bandeira das treze listas: são treze lanças de guerra, cercando o chão dos paulistas! (...) Bandeira que é o nosso espelho! Bandeira que é a nossa pista! Que traz, no topo vermelho, o Coração do Paulista!" Nossa Bandeira - Guilherme de Almeida

terça-feira, 17 de julho de 2012

Fiesta de la Virgen de Chiquinquirá en fotos

A igreja Nossa Senhora da Paz (Rua do Glicério, 225 Glicério São Paulo) merece uma visita por tratar-se de um baú de tesouros artísticos vejam (na última foto) os afrescos, são do italiano Fulvio Pennachi, fica a dica!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Que viva Colômbia!

Por iniciativa de três religiosos colombianos residentes na capital paulista e apoiados por muitos outros imigrantes latino-americanos que aqui residem, no último dia 09 de julho foi celebrada pela primeira vez uma missa festiva em honra à Virgen de Chiquinquirá, padroeira da Colômbia. O local escolhido não poderia ser outro, a igreja Nossa Senhora da Paz, localizada no Glicério, região central de São Paulo, tal qual a terra de Garcia Márquez o bairro traz fortes marcas da violência, drogas e prostituição. Construída por imigrantes italianos na década de 1940 em meio a segunda grande guerra, a igreja é um convite à paz e a prática da tolerância, uma grande Babel às avessas. O pátio da igreja se tornou um ponto de encontro da comunidade haitiana em São Paulo, e há novos rostos com suas realidades tão marcantes como do jovem nepalês que conheci pouco antes do início da missa, solteiro, 29 anos, optou por (re)fazer sua vida no Brasil atraído pelos grandes eventos que irão ocorrer nos próximo anos. Colombianos, paraguaios, chilenos, peruanos, bolivianos, haitianos, brasileiros e até um libanês, todos cada um com seu idioma, cultura, saudade, mas unidos em torno de um mesmo desejo a paz!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

São Paulo, pedra e poesia II

A saga da poesia que emana das pedras de São Paulo continua com o trecho da célebre Águas de Março de Tom Jobim, “é pau, é pedra, é o fim do caminho...” Não era o fim nem o começo, mas era o caminho. Na esquina das ruas França Pinto e Domingos de Moraes, na Vila Mariana encontra-se outro marco quilométrico, segundo o pesquisador Werner Vana, em texto de sua autoria entitulado A história de Vila Mariana (disponível em seu site www.wernervana.com), nos diz que em 1840 havia um pouso de tropeiros a certa altura do Caminho do Carro de Santo Amaro, local onde se iniciava o Caminho para Pinheiros (que também dava acesso a Sorocaba, Parnaíba e Itu), esta estrada consistia em um grande atalho para os viajantes vindos de Santos pela Estrada do Vergueiro com destino a Sorocaba que ao utilizá-la não precisavam passar pela cidade de São Paulo. O monolito de pedra que causa estranheza e dúvida entre os pedestres apresenta um estado supreendente de conservação, ainda pode-se ler as indicações de quilometragens contidas no marco. Um fato curioso é o marco ter um vigia, ou melhor, uma família de vigias, na esquina há uma loja de tecidos, delicadamente se achegaram e como se nada quisessem indagaram o motivo das fotos, e aí foi o ponto de partida para um rápido e bom bate papo, o herdeiro da loja, meu xará, disse que até já alteraram projetos de reformas da prefeitura no local em nome da preservação do monumento. Ps. Mil perdões, no primeiro post sobre os marcos quilométricos apenas referi ao bairro do Ipiranga, sem precisar a localização, mas aqui me redimo, o monumento encontra-se na rua Silva Bueno altura do número 375.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

São Paulo, pedra e poesia - Parte I

O cuiabano Manoel de Barros escreveu “pedra sendo, eu tenho gosto de jazer o chão (...) o sol me cumprimenta primeiro”. Já o querido itabirano Drummond escreveu “tinha uma pedra, no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento...”. E o que escreve quem vive na cidade que muitos dizem não passar de uma selva de pedra?! Escrevo o que as próprias pedras dizem, a história da cidade. No bairro do Ipiranga, lá mesmo onde “começa” o Brasil, há uma pedra digna, da arte poética de Drummond, cercada por correntes o estranho monolito parece brotar da calçada. Implantando em 1916, quando o então prefeito de São Paulo Washington Luiz decidiu instalar marcos para delimitar a quilometragem das principais estradas de rodagem que serviam à cidade, totalmente deteriorado e desprovido de todas as informações contidas no ato de sua construção. Ao sacar a câmera fotográfica alguns moradores locais foram ao meu encontro em busca de informações sobre o que seria a pedra no meio do caminho, pois não detinham informações. Fato curioso ocorreu quando fui abordado por um comerciante local que me informou haver anos atrás uma placa de identificação junto ao monumento e inexistente no momento em virtude de vandalismo, este mesmo senhor disse ser o marco, um monumento histórico provavelmente de do século XV ou XVI, fato que nos reafirma a desinformação local bem como o descaso com o patrimônio. Fica o convite a ouvirmos o que as pedras nos dizem ...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Senhora dos Aflitos, rogai por nós!

O fato de ter nascido sob a religiosidade católica direciona meu olhar à expressões desta fé. Ao caminhar pelas ruas mais orientais de São Paulo no bairro da Liberdade, deparei-me com um beco e ao final dele uma capela que por seu estado de conservação pareceu-me ter testemunhado boa barte da história local. Dedicada à Nossa Senhora dos Aflitos, a igreja foi construída em 1779 e fazia parte do primeiro cemitério público da cidade onde eram sepultados escravos, indigentes e condenados à morte. Nada mais restou do cemitério que foi desativado logo após a inauguração do Cemitério da Consolação, a pequena capela em sua singeleza resiste ao tempo e a indiferença dos que transitam pela região.

Festa da Bandeira Haitiana

N AP VIN ZANMI!*
*NÓS SEREMOS AMIGOS (EM CRIOULO HAITIANO)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pense no Haiti ...

Tal qual a mitológica Fênix, poderia uma nação renascer das ruínas sob as quais parece jazer? Cambaleante, não mais nos alegres passos de sua dança, mas no trilhar tortuoso sobre os escombros que ocultam edifícios, pessoas, memórias, um povo refaz sua história, não necessariamente onde tudo começou, mas onde conseguiu chegar. Haiti. Após um devastador terremoto ocorrido em janeiro de 2010, haitianos marcados pelo luto, por doenças e corrupções políticas foram impelidos a reescrever sua história e o Brasil tornou-se um novo e importante capítulo. Estima-se que há cerca de 5000 haitianos no Brasil dos quais aproximadamente 1600 encontram-se em São Paulo. O país mais pobre no coração da cidade mais rica da América Latina reconstrói sua história. Na Paulicéia a comunidade haitiana se reúne para celebrar o jour du drapeau, o dia da bandeira, momento em que rememoram a data quando os escravos que lutavam pela libertação da ilha do jugo francês rasgaram a faixa branca da bandeira francesa e criaram uma nova bandeira com as tiras azul e vermelha buscando expressar a separação vislumbrando a Declaração de Independência que seria proclamada meses depois em janeiro de 1804. E não havia lugar melhor para essa comemoração, a igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério! A singela bandeira parecia romper as barreiras geográficas, lingüísticas e culturais, acolhida por numerosos olhares saudosos, ora tristes ora vitoriosos que compartilhavam suas vidas com a cosmopolita assembleia presente na igreja. Brasileiros, bolivianos e até uma alemã e um libanês enriqueciam o fantástico mosaico étnico presente no templo. A missa celebrada em francês, creole e português unia mais ainda as pessoas que ali estavam e os faziam solidários àqueles que já não mais estão por este mundo, mundo vasto mundo como dizia o poeta. A paz não é somente a ausência da guerra, mas o estômago saciado, a carteira de trabalho assinada, o lugar reservado nos bancos escolares, os cuidados de um profissional de saúde, o sorriso ao passear por um parque, enfim é a vivência da cidadania. Acolhendo migrantes, imigrantes e refugiados a Missão Scalabriniana Nossa Senhora da Paz, tornou-se um centro de referência à acolhida da pessoa em situação de mobilidade. No Complexo Missionário composto pelo Centro de Estudos Migratórios, Centro Pastoral do Migrante, Casa do Migrante e pela Igreja Nossa Senhora da Paz milhares de pessoas de mais de 70 nacionalidades já foram atendidas. A presença marcante da comunidade italiana e as cores das comunidades sul-americanas se abrem a nova comunidade que começa a compartilhar sua fé, cores e sabores e, como cantam outros poetas “pense no Haiti, reze pelo Haiti, o Haiti é aqui ...”

segunda-feira, 19 de março de 2012

Latinoamericanidade em alta

Em outros manuscritos, ou melhor, linhas virtuais escrevi que facilmente podemos nos sentir estrangeiros em São Paulo, jornais em italiano e alemão, revistas e vitrines em inglês, cardápios e convites a almoços e lanches nas indecifráveis (ao menos para esse incipiente autor) línguas orientais, isso apenas nos limitando à perspectiva lingüística.
Caminhando outro dia pela Terra dos Mil Povos deparei-me com um protesto artístico na forma mais comum de arte encontrada em São Paulo, o grafite. Em um das colunas de sustentação do Viaduto Antártica há duas figuras cheias de marra, que protestam contra a marginalização dos artistas urbanos, porém, apresentam a solução e demarcam seu espaço, as ruas. Digno de nota é a inscrição na parede estar em língua espanhola, seria um protesto imigrante?! Expressão da globalização?! Ou tão simplesmente a arte em sua essência maior, a liberdade?!
Ps. De fato aqui é a terra dos mil povos, poucos passos a frente de onde estava há uma estátua do Conde Matarazzo, agricultor italiano que emigrou para o Brasil nos tempos imperiais onde se tornou em sua época o homem mais rico do país, criador do maior complexo industrial da América Latina nos primórdios do século XX. A riqueza produzida por suas indústrias ultrapassava o PIB de qualquer estado brasileiro, exceto da big apple paulistana.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Neruda na terra da garoa

Em sua famigerada autobiografia Neruda confessa “prosterno-me diante delas [as palavras] amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as...” após me aventurar nas palavras do poeta, ousei rabiscar algumas linhas as quais partilho com todos.


Una canción casi desesperada
Esta noche yo también puedo escribir versos muy tristes.
Vacío
Solo.
Sobre mi cama
sediento de tu boca
hambriento de tu cuerpo
ansioso por tu pecho
Mi corazón se pone como un farol en lo alto del monte con su luz fuerte para guiarlo hasta mí.
Solo.
Vacío.
Silencioso.
Me quedo a tu espera.

Yo no lo sé
me gustaría mucho escribir un poema de amor
pero dentro en mi pecho donde estoy acostumbrado a encontrar las palabras
no hay palabras sino un eco
dolor
dolor
dolor
dolor
dolor.

terça-feira, 6 de março de 2012

Uma São Paulo Memorial

Ao navegar pelo site do Memorial da América Latina deparei-me com a seguinte apresentação: “Plantado em 84.480 m², no bairro da Barra Funda, o Memorial é um convite permanente às manifestações artísticas e científicas latino-americanas, um apelo para que elas façam do conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer a sua casa em São Paulo”. Duas palavras chamaram minha atenção, palavras que apenas reforçam a identidade paulistana que permeia o imaginário lúdico-coletivo dos habitantes da Paulicéia. São elas “plantado” e “convite”, a primeira remete o leitor à famigerada selva de pedras, aos espigões da avenida Paulista, ao concreto em verso, prosa e engenharia presente nos quatro cantos da cidade, já a segunda reforça o caráter hospitaleiro, acolhedor e quiçá desafiador inerente à cidade. São Paulo é uma cidade intensa, exigente, ríspida muitas vezes, porém, apaixonante, a relação com São Paulo deve ser de entrega e diria mais, entrega total, paira na mente de muitos que residem a dolorosa sentença, ame ou deixe-o, e para nossa alegria apesar do trânsito caótico, das filas colossais, dos impostos abusivos, do custo de vida que beira a altura das torres de tv, a grande maioria diz: amo e não deixo!
Sempre gostei de ver o mundo que me cerca, antes me atinha apenas às imagens, porém, hoje vejo as palavras, mas como no arquivo deste que amante da terra garoa há fotos do Memorial da América Latina, nada mal compartilhá-las, certo?!





Essa última foto é um exemplo super bacana de acessibilidade, de integração, como é o propósito do Memorial, cultura ao alcance de todos!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Carnaval à Paulistana

Estava me acostumando a passar carnavais fora da Paulicéia Desvairada. Em Roraima a estudos, Litoral Paulista como todo bom paulista farofeiro ou em Buenos Aires como toda classe média, mas esse ano só havia uma opção, São Paulo e lá assinalei meu (X).

Depois de uma fuçadinha na estante e algumas horas navegando na internet estava pronto meu roteiro para o Carnaval! Uma sambadinha com alguns blocos da cidade, visitas à livrarias e exposições fechando com alguns filmes que há tempos queria assistir!

São Paulo é de fato uma cidade surpreendente!

Sábado fui curtir a folia na região de Pinheiros com o João Capota na Alves. O nome do bloco é uma brincadeira com os nomes das ruas onde moram os foliões fundadores (ruas João Moura, Capote Valete e Alves Guimarães). Fundado em Mil Novecentos e Dois Mil e Oito, o bloco percorre as ruas locais fazendo um pit stop na Praça Benedito Calixto. Lá a diversão é garantida e os trocados também, os ambulantes primes que o diga, em seus isopores só Heineken e Stela Artois, nacionais nem pensar, helloooo!!


O domingo foi dedicado à sétima arte, alguns alternativos iranianos e outros comerciais da terra de Obama.

Segunda-feira fui pular carnaval com o Bloco dos Esfarrapados na Bela Vista, mas preferi saltar de banda e curtir uma caminhada na Paulista. Em companhia uma amiga parei em uma lanchonete próxima ao MASP, de onde eu estava via certa aglomeração de pessoas mascaradas e outras disparando flashes incessantemente, resolvemos dar uma espiada mais de perto, para nossa surpresa era uma comemoração taiwanesa, sim, people, taiwanesa e infelizmente nenhuma alma lusófona conseguiu me explicar o que era tudo aquilo.





Minha folia se encerrou na terça-feira em grande estilo quando me deleitei no Memorial da América Latina, onde pude contemplar os painéis Guerra e Paz de Cândido Portinari, que foram restaurados aqui no Brasil para logo voltar à sede da ONU em Nova Iorque.






Sem dúvida São Paulo é a terra de todos, é a terra de tudo ...
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