Bastou o seco estampido de uma arma de fogo para despertar outro gigante, não adormecido, mas compulsoriamente silenciado por ações preconceituosas reincidentes e contraditórias à suposta imagem acolhedora da megalópole paulistana.
Na última sexta-feira, 28 de junho, um grupo de homens encapuzados invadiu a residência de um grupo de costureiros bolivianos na Zona Leste de São Paulo em busca de dinheiro, os moradores entregaram aos assaltantes todos os valores que possuíam, cerca de R$ 4.500,00. Assustado com a violência o pequeno Brayan entregou aos bandidos algumas moedas e inocentemente pediu “no me mates”.
Um tiro.
Apenas um disparo foi o suficiente para calar a voz pueril do pequeno boliviano de apenas cinco anos, mas a dor de seus pais se estendeu por toda comunidade boliviana em São Paulo, que atualmente compõem o maior contingente de estrangeiros na cidade ultrapassando japoneses e italianos já há tempos integrados à paisagem social.
Centenas de bolivianos apoiados por imigrantes de outras nacionalidades e brasileiros solidários à causa romperam a invisibilidade social e deram um rosto à voz embargada pela dor, juntos gritaram justicia, e, penso ser este clamor não somente à família boliviana dilacerada pelo latrocínio, mas a toda uma comunidade que unida a outros grupos de (i)migrantes construíram nossa cidade e trazem consigo o sapere, palavra que em latim, tem o duplo sentido de “saber” e “ter sabor”, como é saboroso conhecer o Outro.
Muito além do famigerado gigante pétreo patrocinado por uma conhecida marca de bebidas ou pelo que despercebido aos olhos das multidões estava “deitado eternamente em berço esplêndido” o gigante que agora se levanta chama-se Humanidade e como nos apresenta um dicionário seu nome significa “sentimento de bondade e compaixão para com os semelhantes”.
Foto gentilmente cedida pelo manifestante Víctor Gonzales
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