quarta-feira, 2 de julho de 2014

Um nobre artista no reino do futebol

Não sou fã de futebol, mas em tempo de Copa do Mundo me aventurei participando de uma das transmissões de jogo da seleção canarinho na Fifa Fan Fest, uma das exigências da Fifa ao país-sede, um local para além da transmissão do jogo, servir de divulgação para seus patrocinadores.

A partida era Brasil e Chile pelas oitavas-de-final, dois tempos de 47 minutos em média, depois prorrogação com quase 40 minutos e por fim cinco pênaltis de cada lado e a decisão se deu apenas no último chute, Brasil classificado para as quartas-de-final e Chile de volta à casa.

Apesar de presenciar grosserias e hostilidades gratuitas aos torcedores chilenos foi emocionante compartilhar da vibração dos torcedores alguns oscilando entre devoção e fanatismo, mas todos orgulhosos de serem brasileiros.

Decidi então torcer pelo Brasil, não pela seleção, mas pelo país. Torcer pela Educação, pela Saúde, pela Segurança e, perceber que mesmo que sejam batalhas difíceis e longas caminhadas, nesta jornada há pequenos deleites. Em virtude de suas dimensões continentais o país seja poliglota (pensando em Evanildo Bechara!) e mestiço, opto em fazer um recorte para expressar essa gana de vê-lo vencer, São Paulo, a antiga terra da garoa, mas ainda terra boa parece-me tal qual um mosaico que paradoxalmente fragmenta mantendo a unidade resume em si a grandeza deste gigante...

Colombianos, sul-coreanos, chilenos, australianos, nigerianos, argentinos aproveitavam a festa, não é este um retrato da mais cosmopolita cidade brasileira? Andar por São Paulo é como descobrir novas praias ou povoados Brasil a fora e se enamorar deles ...

Antes do jogo dei uma rápida passadinha pela Catedral da Sé, cartão-postal paulistano que comemora este ano seu sexagésimo aniversário de fundação, mas no caminho deparei-me com um mosaico, um pouco deteriorado, mas com a assinatura ainda íntegra, Di Cavalcanti, importante artista brasileiro que estampou em suas telas o Brasil plural, e elegeu a mulata como símbolo desse país e disse: "A mulata, para mim, é um símbolo do Brasil. Ela não é preta nem branca. Nem rica nem pobre. Gosta de música, gosta do futebol, como nosso povo”.

Bom, voltemos ao painel de Di Cavalcanti, a obra encontra-se na fachada do Edifício Triângulo, projetado por Niemeyer, o nome se deve a sua forma geométrica, o prédio está localizado na esquina das ruas José Bonifácio e Quintino Bocaiúva. O painel retrata os trabalhadores do café, um dos ícones do próspero momento vivido pela cidade com a economia cafeeira no fim do século XIX.


São Paulo é isso, pequenos lances fazem com que turistas, pedestres ou até mesmo moradores de rua vibrem como os brasileiros ao final da cobrança de pênaltis, bom, assim será se driblarmos a corrupção e marcamos o gol da educação, se vencermos na saúde, moradia, segurança, na cidadania!

Ah, por último, mas não menos importante um registro da aniversariante catedral.

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