quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Experimentações

A experiência de blogar para mim ainda é incipiente, porém, o compartilhar de algumas linhas que ouso escrever já faz um tempo, busquei em meus arquivos um texto de minha autoria publicado na Revista da Folha em 13 de setembro de 2009 e em novembro do mesmo ano no site www.saopaulominhacidade.com.br, uma viagem à Russia sem sair da terra da garoa!

Enfim mais um domingo, dia de irmos à igreja. Após um longo caminho, cujo percurso fora realizado ora de metrô ora de ônibus, chegamos à rua das Giestas. À rua foi dado o nome de um pequeno arbusto marrom, de flores amarelas, utilizado para a fabricação de vassouras ou ainda para fins medicinais. Este arbusto é muito comum no Leste Europeu o que me causou grata surpresa, pois em determinada altura da rua podemos avistar a cúpula da igreja Nossa Senhora da Glória, paróquia pessoal da comunidade ucraniana.

Mais a frente a esquerda temos a Vila Zelina (zelyony, verde em russo, será uma feliz coincidência?) Em algumas leituras que fiz após minha visita ao bairro, li que o nome Zelina, trata-se de uma homenagem à filha do loteador das terras que deram origem à vila), um bairro com marcante presença de lituanos, muito expressiva na igreja São José com arquitetura típica lituana e à frente da igreja, a santa cruz ricamente ornamentada com elementos da natureza, costume comum naquele país.

Embora professemos a fé na igreja católica romana, não parei nessas igrejas, mas prossegui adiante, rumo a um pedacinho da Rússia em meio ao calor dos trópicos. Os sinos soaram e com um olhar mais atento pudemos vislumbrar em meio às árvores a cruz ortodoxa bem como as belas e inconfundíveis cúpulas, marcas da identidade arquitetônica ortodoxa. O grande movimento de pessoas de pele clara e olhos azuis, homens altos, mulheres cobrindo a cabeça com lenços coloridos certificavam-me de que ali era o local, a paróquia Santíssima Trindade, igreja fundada na década de 1930.

A divina liturgia naquela manhã congregava imigrantes e descendentes de fé ortodoxa a celebrarem a sagração do novo bispo para América do Sul. O padre George Petrenko é o primeiro brasileiro a ocupar o cargo. O meio conhecimento acerca da língua russa limita-se a um tímido "spasiba".

Embora a celebração tenha transcorrido predominantemente em língua eslava e não tinham bancos, pois nas igrejas ortodoxas não se devem ter bancos, apenas os idosos se sentam em pequenos bancos fixados nas paredes laterais, pude sentir a alegria, respeito e carinho por parte de todos que ali estavam em relação aos representantes da Igreja Ortodoxa. A beleza do momento foi enriquecida com lindas canções entoadas por um coro que conferiam à celebração um ar solene e todos os sentimentos que permeavam meu coração eram emoldurados pela rica arte icônica sempre presente nas igrejas de ritos orientais.
Transcorridas cerca de quatro horas, a divina liturgia se encerrava com sincero agradecimento do então bispo, que disse a seus fiéis a partir de então a comunidade passava a ter um padre a menos, porém havia um bispo a mais, e pediu a todos que continuassem a orar por ele em particular a partir daquele especial momento.

Mais um domingo na terra da garoa, meu amigo e eu não pudemos ficar para confraternização, mas pudemos saborear a cultura ortodoxa russa!

Um comentário:

----------------------------------------------- */