quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Muito além dos italianos, japoneses e árabes

Dedico este texto a uma pessoa muito especial, ao cholo arequipeño Víctor Gonzales, muchas gracias!




Nova cor a São Paulo



Homens vestindo hábitos roxos carregam sobre os ombros um enorme andor com a imagem de Jesus Cristo crucificado, mulheres vão à frente com flores e vasos dos quais sobe uma fumaça branca, músicos também acompanham o cortejo entoando uma melodia que confere à procissão um caráter solene. Ao redor fiéis devotos seguem à marcha. Ao som de uma campainha o cortejo pára e crianças são apresentadas à imagem de Jesus por seus pais com pedidos de bênçãos, os carregadores cedem seus lugares a outros que sobrepõem a sua roupa a veste roxa, neste momento mulheres também assumem o translado do andor, o caminhar prossegue. A procissão percorre ruas de um bairro constituído de cortiços e fortemente marcado pela droga e prostituição. A marcha continua. Pessoas saem às janelas, outros preferem entrar para suas residências, alguns param à porta do supermercado e chamam o colega para ver, o motoqueiro dá passagem, já os motoristas de ônibus preferem dividir a rua com a procissão alguns passageiros reclamam outros registram com seus celulares o que vêem. 

Essa facilmente poderia ser a descrição de uma das muitas procissões que ocorrem na sexta-feira que antecede à Páscoa, quando católicos saem às ruas para recordarem a morte de Jesus, se não fosse ela realizada em outubro e não se trata de uma versão religiosa da micareta, aquelas folias fora de época já incorporadas à cena festeira do país, mas da procissão em homenagem ao Señor de los Milagros, celebrada na Igreja Nossa Senhora da Paz, localizada na Várzea do Glicério, região Central de São Paulo, um ponto de encontro de muitos imigrantes latinos da cidade. A metrópole paulista ao longo da história tornou-se herdeira de muitos povos, o mosaico étnico paulistano compõe-se de aproximadamente setenta nacionalidades diferentes e, a cada dia novas culturas se integram na megalópole de identidade multifacetada.

A secular e belíssima devoção ao Señor de los Milagros, patrono dos peruanos residentes e imigrantes tem ganhado às ruas de São Paulo e, com isso juntamente com os artesanatos e tecidos coloridos, as músicas tocadas em flauta andina que já conhecemos há muito tempo e a gastronomia que tem conquistado o paladar dos paulistanos a incipiente comunidade peruana vem (re)criando sua identidade sócio-cultural . A devoção reúne toda a comunidade e juntos homens e mulheres, ricos e pobres em terras estrangeiras se conectam com Lima, capital peruana, onde a procissão reúne milhares de pessoas. Os peruanos começaram a chegar a São Paulo nas décadas de 1960 e 1970, a emigração foi estimulada pela conjuntura econômica, política e social vivida no país. Nas décadas seguintes o contingente de imigrantes na cidade aumentou, reflexo da ditadura militar e ações de grupos internos armados ocorridos no país de origem. O Brasil ainda constitui um pólo atrativo a imigrantes hispano americanos do sul, fato que confere uma grande contingente populacional em situação de mobilidade.

 Aqui em São Paulo os peruanos estão dispersos por muitos bairros, porém, há uma forte concentração de imigrantes na Região Central da cidade, hábeis comerciantes, comunicativos e sociáveis, características que os inserem facilmente no cenário paulistano, ainda que por muitas vezes sejam confundidos com otros hermanos, os bolivianos, comunidade bastante numerosa na cidade. Agora já sabemos que além do azul, branco  e amarelo vibrantes nas festas em honra a Nossa Senhora de Aparecida outubro também terá uma outra cor, o morado, que no início brasileiramente chamei de roxo.
Ps. Vou organizar as fotos e em breve as disponbilizo para todos.

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